Vinho Madeira

Vinho Madeira

Vinho Madeira

Vinho Madeira

Ao longo dos séculos, o “Madeira” ganhou reputação mundial, passando a ilha e o vinho a serem sinónimos de qualidade. Trata-se de um vinho sem igual, intenso, doce e fresco, e que apura com o passar dos anos. Há lotes com mais de cem anos, ainda em excelentes condições. Os vintages são colheitas especiais, destinadas especificamente ao envelhecimento.

 
O vinho da Madeira chegou à cena mundial no século XVII, tendo-se tornado no vinho favorito das colónias americanas. George Washington bebia um quartilho por noite e um copo de vinho da Madeira selou a assinatura da Declaração de Independência norte-americana. Na Rússia era o vinho favorito da corte dos czares. Foi num copo desta apreciada bebida que, em 1917, o Príncipe Félix Yusopov deitou o veneno destinado ao monge Rasputine.Entre o século XVIII e os inícios do século XX, nas obras de autores franceses com o Marque de Sade, Honoré Balzac ou Alexandre Dumas, o “Madeira” teve múltiplas referências elogiosas.

 
As características especiais deste vinho têm a ver com um acidente ocorrido em princípios do século XVIII. Um carregamento guardado no porão de uma embarcação, acabou por dar a volta ao mundo, passando duas vezes o Equador antes de voltar à Madeira. Remexido pelas ondas e sujeito às temperaturas tropicais ganhou um novo e delicioso sabor por via deste envelhecimento artificial. Ao ganhar por esta via, características especiais de aromatização, ficou conhecido como o Vinho da Roda.

 
O atual processo de fabrico inspira-se nesta aventura. Mas embora o vinho continue a ser sujeito ao mesmo calor intenso, já não tem de viajar tanto para alcançar o seu gosto característico. Existem estufas para recriar o calor tropical. No caso dos vinhos mais baratos, o envelhecimento é acelerado em fornos, a passo que nos de topo de gama o aquecimento se faz suavemente já nas pipas e em armazém.
Remonta igualmente ao século XVIII o processo de fortificação com aguardente que, travando a fermentação, torna o vinho mais doce. O apogeu da exportação do vinho da Madeira deu-se nos finais do século XVIII. Nessa altura, dois terços das exportações tinham como destino o mercado norte-americano. A partir de 1831 a Inglaterra e a Rússia vieram a substituir as antigas colónias do Novo Mundo.

 
No século XIX o vinho da Madeira quase desapareceu, devido à dupla tragédia de oídio (Oidium Tucker – conhecido popularmente como a mangra do vinho) em 1852 e da filoxera (Phylloxera Vastatrix) em 1872. Estas pragas devastaram as videiras e arruinaram a produção: 55 das 70 firmas britânicas que aqui existiam, fecharam e deixaram a Madeira. Para fugir à miséria, a mão-de-obra emigrou, sobretudo para o Brasil.

 
Tal como no resto da Europa, as cepas das castas antigas foram substituídas por variedades híbridas, enxertadas com vinha norte-americana, resistente às pragas. Durante a I Guerra Mundial os ataques dos submarinos alemães à navegação mercante fizeram decrescer as exportações. Contudo, logo em 1919 as exportações voltaram a subir. Os “stocks” dos melhores vinhos esgotaram e a cotação no mercado aumentou e com ela a popularidade junto dos consumidores. A II Guerra Mundial trouxe novas dificuldades, pois raros eram os navios que faziam escala no porto do Funchal. Infelizmente com a paz não veio a tão desejada recuperação.

 
Passadas décadas menos felizes, durante as quais o vinho da Madeira quase só era usado na cozinha, as perspetivas melhoraram. Os produtores apostam em novos mercados, como o Japão, onde já é tradição brindar nos casamentos com um copo de “Madeira”. Tem havido um esforço no sentido de recuperar as castas tradicionais e instituir controles de qualidade mais rigorosos. No mesmo sentido, tem havido uma busca de novas misturas e novos sabores.
A cultura da vinha estende-se por boa parte da ilha, havendo cerca de 14000 parcelas em exploração. A maioria das vinhas antigas aproveita seculares socalcos empedrados. É uma exploração em pequenas unidades, estando as cepas apoiadas em latadas de madeira ou cana. Cerca de metade da produção da uva destina-se ao vinho fino ficando o resto para produzir vinho de mesa.
 
Embora as uvas sejam apanhadas desde o meio de Agosto até inícios de Novembro, Setembro é o mês das vindimas e os campos enchem-se de gente a apanhar as uvas. A festa das vindimas é uma tradição antiga, celebrando-se de Câmara de Lobos a Santana.
A produção dos viticultores é vendida por inteiro, de forma a que nas adegas se possa controlar melhor o processo de vinificação. Desde a adesão à União Europeia, os fundos comunitários têm permitido um melhoramento tecnológico. Já não são os borracheiros a transportar o vinho para os armazéns: agora as uvas chegam inteiras à adega, onde são pesadas, desengaçadas, esmagadas, prensadas e depois postas a fermentar. O vinho obtido a partir da casta Tinta Negra Mole vai primeiro à estufa e só depois passa para os cascos de carvalho. Já nos vinhos vintage esta estufagem não é autorizada, tendo estes que amadurecer naturalmente nos cascos durante vinte anos, em pipos de madeira de cetim do Brasil. Os enólogos vão acompanhando e controlando todo o processo.
 
O vinho da Madeira é caracterizado pelo seu gosto a açúcar caramelizado, resultante do envelhecimento em casco de madeira. Os melhores copos de prova são em forma de tulipa e de tamanho médio, de forma a melhor deixar perceber a fragrância. Os quatro principais tipos de vinho da Madeira são designadas pelo nome das suas castas: Malvasia, Boal, Sercial e Verdelho.
As restantes variedades de vinho da Madeira tomam, também, o nome das castas a partir das quais são produzidas: Tinta Negra Mole, Bastardo, Terrantez e Moscatel.
Diferentes formas de vinificação produzem vinhos excepcionais: Rainwater Madeira, Vintage Madeira e Soleras.