A Reserva Natural das Ilhas Desertas é constituída pela Deserta Grande, pelo Ilhéu Chão e pelo Bugio, tendo o estatuto de proteção sido decidido em 1990, perante a urgência de proteger o lobo-marinho mais raro do mundo, a foca-monge (Monachus monachus). Localizada 30 km a sueste da Madeira, a reserva abrange, além destas três ilhas, uma área de 9672 hectares que inclui a zona subaquática até à Ponta de São Lourenço, até à profundidade de 150m.
As cores das ilhas variam do encarnado ao laranja, sendo o tom dominante acastanhado. A atestar a sua origem vulcânica, há extensos mantos de basalto. Nunca foram colonizadas devido à fata de água potável e às características inóspitas do terreno. Houve, apesar de tudo, algumas tentativas de instalação, pois há documentos confirmando que no século XVI chegou a ser cultivado cereal na Deserta Grande para alimentar o gado aqui introduzido. Da história destas ilhas faz parte um combate ocorrido em 1564, entre um grupo e pastores da Deserta Grande e um bando de 80 piratas que, derrotado, teve de se retirar. Ao longo dos séculos a ilha pertenceu a várias famílias madeirenses, tendo sido comprada em 1971 pelo estado português à família Rocha Machado.
A pouca vegetação é essencialmente herbácea, muito embora a temporária introdução do gado tenha devastado uma parte do coberto vegetal, abrindo caminho à erosão. Em todo o caso, há registo de duas centenas de espécies de plantas.
Para além da foca-monge, outros animais são dignos de nota. Estas ilhas são um importante centro de nidificação para aves marinhas como a cagarra, o roque-do-castro, a alma negra e a raríssima freira-do-bugio, só existente na ilha do Bugio e em Cabo Verde. As aves residentes incluem o canário-da-terra, o corre-caminhos, a gaivota, a manta, o francelho e a coruja. No que respeita os insetos, a tarântula-do-deserto é endémica na Deserta Grande.
Situadas a cerca de 300 km a sul do Funchal, as Ilhas Selvagens estão mais perto das Canárias que da Madeira. Foram oficialmente descobertas pelo explorador português Diogo Gomes no século XV. Tratando-se de um verdadeiro santuário ornitológico, estas ilhas não podem ser visitadas sem autorização, existindo vigilância permanente contra os caçadores furtivos.
A Selvagem Grande é plana, muito embora possua falésias que se elevam 100m acima do nível do mar. O clima é marinho subtropical, com os ventos de nordeste a trazer ar quente e mesmo areia do deserto do Sahara. A Selvagem Pequena e o Ilhéu de Fora são ambas vestígios de picos vulcânicos submarinos, com 27 milhões de anos, agora quase integralmente cobertas por areia de cal.
A falta de água potável fez abortar todas as tentativas de colonizar estas ilhas. Sinal desse esforço são as ruínas de muros ainda visíveis na Selvagem Grande. A introdução de cabras e coelhos no século XV teve efeitos devastadores sobre a vegetação.
Durante séculos a Selvagem Grande assegurou fartos rendimentos aos seus proprietários, graças ao comércio da urzela e de líquenes usados na tinturaria e no fabrico de sabão. Tinham ainda significado económico a pesca e salga do peixe, bem como a caça às cagarras, vendidas pela carne e pelas penas. Em 1971 as ilhas foram compradas pelo estado português, juntamente com as Desertas, e mais tarde transformadas em reserva natural, sendo um dos maiores santuários de aves marinhas do mundo.
Um importante defensor das Selvagens foi Alec Zino, conservacionista e ornitólogo nascido na Madeira. Em sua honra foi baptizada uma das aves mais raras da Europa, a freira-da-madeira ou Zino’s petrel. Depois de acompanhar uma expedição científica às Selvagens em 1963, Alec Zino ficou impressionado com as razias praticadas pelos caçadores furtivos. Por isso comprou os direitos de pesca e caça nestas ilhas. Até a sua morte, em 2004, Zino ajudou a proteger e estudar as colónias de aves marinhas, construindo, para esse efeito, a primeira casa das Selvagens.
O Parque Natural da Madeira consagra o papel vital que a Reserva das Selvagens tem na proteção de importantes áreas de nidificação de aves marinhas raras, na proteção de uma flora com espécies únicas e na manutenção dos stocks de pesca nesta área do Atlântico. As aves marinhas incluem uma colónia de cagarras com mais de 14000 casais e uma outra de roques-do-castro de cara branca, com 40000 casais. Existem ainda o calcamar, o pintainho, o alma-negra e o raríssimo garajau-rosado.
A vegetação na Selvagem Pequena e no Ilhéu de Fora está intacta, visto nunca ter havido aqui, nem presença humana, nem introdução de gado. Isto torna-se particularmente interessante do ponto de vista botânico. Ao todo, existem aqui 11 plantas endémicas.
As Selvagens estão, ainda, ligadas à lenda de um tesouro perdido, aqui escondido pelo famoso capitão Kidd. Em 1701, este pirata escocês atacou um galeão espanhol carregado com as riquezas da catedral peruana de Lima, mas teve de esconder à pressa na Selvagens o produto do saque. Durante o século XIX, pelo menos quatro expedições tentaram descobrir este tesouro. Em 1923, o explorador inglês Sir Ernest Shackleton veio ao Funchal dizendo ter elementos fornecidos pela marinha britânica respeitantes à localização desse tesouro. Pediu então autorização ao dono das Selvagens, Luís Rocha Machado, para iniciar as buscas no regresso da sua viagem ao Pólo Sul. Como morreu durante essa expedição, o segredo, se existia, perdeu-se com ele. Atualmente as únicas visitas autorizadas às Selvagens são científicas e têm como finalidade o aprofundar do estudo da botânica, da vida selvagem e da